terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Almanaque Steampunk 2017


Pedro Cipriano (ed.) et al (2017). Almanaque Steampunk 2017. Calvão: Editorial Divergência.

O regresso do Almanaque Steampunk foi uma das boas notícias do Fórum Fantástico 2017. Criado com algumas limitações de tempo, regressou esta vénia da cultura de género ao clássico formato de almanaque que, por cá resistiu até aos anos 50, se não me falha a memória. O interessante deste livro é sempre o ser uma forma diferente de conceber a ficção. É, para todos os efeitos, uma antologia, mas não se mostra como tal. Recriando o estilo do almanaque, com anúncios, notícias, ilustração, reportagem e dicas, é uma forma muito meta-ficcional de explorar o steampunk. Abordagem essa que, diga-se, lhe fica muito bem, perfeitamente consentânea com um estilo que é em si uma mescla visual e literária. Analisar aqui o conteúdo seria exaustivo -nesta publicação, até os elementos mais discretos são ficção, mas entre os contos destaco Algoritmos de João Ventura, pela forma intrigante como usa a roupagem steampunk para abordar temáticas do impacto social da robótica e automação, que hoje sentimos como actuais, num conto onde um detetive, com auxílio da lendária Ada Lovelace, descobre que a razão de um erro em tabelas logarítmicas produzidas por engenhos analíticos se deve à quase invisível sabotagem de um dente numa engrenagem por um calculador consciente da sua obsolescência face à computação.

Preciso de explicar o que é um engenho diferencial, engenho analítico e calculador? Não estou para aí virado. Leiam sobre Babbage, Lovelace e história da computação para isso. Computer: A History of the Information Machine, por exemplo. Ou leiam o Difference Engine do Gibson e do Sterling para perceber a raiz de um género literário que, entre outras coisas, se atreve a imaginar como seria o mundo se os engenhos que Babbage concebeu tivessem funcionado de forma alargada (em sentido restrito, especialmente com cópias alemãs, funcionaram).