quinta-feira, 3 de maio de 2018

Angles of Attack


Marko Kloos (2015). Angles of Attack. Seattle: 47North.


Diga-se que Kloos é implacável na forma como estrutura o grande arco narrativo da sua série. Esperamos a todo o momento que se decida a resolver decididamente o grande macguffin da história, com o momento em que a Terra consegue travar a invasão alienígena. Este não será o livro onde isto acontece. Kloos arrasta este ponto narrativo lógico o mais que pode. Prefere focar-se nas relações ilógicas entre as autoridades que governam o planeta.

É a outra grande linha narrativa da série, a forma como este futuro não é de paz e prosperidade, mas restrições e conflitos. Não existe uma Terra unificada, os blocos regionais e países competem entre si pelo domínio militar nas estrelas. Os recursos estão sempre nos limites, divididos entre o alimentar de enormes núcleos populacionais, terraformar planetas extra-solares e equipar forças armadas, que levam sempre o  melhor do bolo económico. Um estado de conflito constante que só a iminência da invasão da Terra consegue anular, e mesmo assim de formas inesperadas. Frente a uma ameaça maior, as elites globais unem-se para escapar, abandonado o planeta.

São atitudes que desmoralizam os aventureiros da série, cada vez mais conscientes do seu papel de defensores e não de meros seguidores de ordens. A acção  passa-se em vários sistemas, e numa Terra onde as populações se organizam em milícias para combater governos cada vez mais desacreditados. E, finalmente, parece haver indícios de um potencial virar da maré da guerra interestelar, com uma derrota dos alienígenas na órbita e superfície terrestres.

Diga-se que esta série é de leitura compulsiva. A acção é interminável, mas o que desperta realmente a curiosidade é tentar perceber como Kloos irá resolver o grande cerne narrativo. É, também, uma série de ideologia atípica no âmbito desta vertente de FC. Os temas habituais, honra, dedicação, estão lá, mas o tom é de uma progressiva desconfiança face à autoridade, bem como um elogio à insubordinação face a potenciais injustiças.